sexta-feira, 28 de março de 2014

Uma dose infinita de gim.

Mariosito Rodriguéz y
Rosa de Montalvino
eram amantes de longa data,
acostumados um à presença
do outro, aos defeitos magros
do outro, ao suor, ao medo
que eles nutriam um do outro.
Mas naquele dia não podiam
mais com nada.
Exausto, Mariosito dijo a Rosa:
-Diosa, te voy a matar.
La rosa se puso a llorar
y gritó a Mariosito, pero no le salía la voz.
Ele se deixou cair no chão,
as duas mãos postas sobre o rosto,
o pulmão se contraindo no choro.
Ela, sentada na cama, os cotovelos
sobre as coxas,
as duas mãos postas sobre o rosto,
o pulmão se contraindo no choro.
Y Rosa habló:
-Pues, mata-me. No puedo con más nada.
Mario, me voy, me tengo que ir.
No puedo, Mario, no puedo, amor mío,
con más nada.  
Mas ela parou no meio da escada
ao olhar pra trás e vê-lo estendido no chão
mais morto, sem cor, sem vida
do que se ele estivesse, realmente,
morto.
Ela foi à cozinha e preparou duas doses de gim,
subiu as escadas e o pegou pelas mãos,
foi à janela, deixou as doses no parapeito
e depois, afogou-o em seu peito.

Levantaram-se, o corpo ainda quente,
suado, cheio de medos, de arrepios,
de sensações intermitentes.
Enrolaram-se em um cobertor,
seguraram a dose de gim e
sentaram-se sobre o parapeito,
dessa vez, ela deitou-se em seu peito.
- Rosa, qué haremos ahora?
-Pués, morir, Mariosito, morir,
amor mío.
Os dois se olharam e entenderam
o que já estava escrito nas páginas
inimagináveis.
Verteram o gim como um néctar de alma,
se abraçaram e se deixaram voar.
Os dois corpos nus,
cobertos um pelo outro
amanheceram inertes e desesperados
sobre a grama do jardim.
Eu olhei para as câmeras e só pude sair pensando

en cómo la vida és una dosis infinita de gin.

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